Me dê o céu
E lhe darei o sol.
Me dê a terra
E lhe darei as flores.
Me dê o mundo
E lhe darei as estrelas.
Me dê o amor
E me tens por inteira!
-Amandita-
Meus pensamentos soltos traduzidos em palavras...
quinta-feira, 30 de junho de 2016
sábado, 16 de agosto de 2014
Está no jeito que me vê
Está no jeito que me vê.
Só quero que venha e me leve com você.
Leia-me. Complete as lacunas.
Acerte nas palavras ou não.
Arranque todos os vales, desapegue e me pegue.
Amarre-me, esconda-me e depois descubra-me.
Cubra-me com seus abraços como se fosse
uma esperança que você não vê, mas sente.
Sorria aquele sorriso e fale sobre seus medos,
conte suas história e me envolva nelas.
Volte a sentir aquilo já está distante até pra mim.
Tente...sei que as tentativas já me fazem bem.
Agarre o fogo com a coragem que só você tem.
Vale a pena se queimar.
Pegue a chave que eu lhe dei.
Entre sem pedir licença.
Bagunce... vasculhe...
Tire e retire o que quiser.
Desvende os mistérios que me tiram do sério.
Pinte e borde. Pinte o sete... sete vezes se puder.
Invente-se...invente-me. Desmorona em si e em mim.
É o errado, que me parece certo.
Amandita
Amandita
sábado, 21 de junho de 2014
Segue o som
1 Buscando as palavras pra dizer o que sinto, tá difícil! Incrivelmente como elas aparecem de maneira mais simples quando o sentimento não é a alegria.
Mas me recuso a não escrever nada, nem que seja só isso, vai ser só isso!
2 Ah! E não é apenas isso! É algo! Algo bom, que mexe naquele cantinho que estava abandonado...as vezes me flagro com sorriso bobo, aí me belisco e caio na real.
3 Não, eu não quero voar alto demais e acabar me espatifando no chão... Se for pra voar, que o vôo seja belo, intenso e ao mesmo tempo suave. E o pouso seja essencial para eu colocar os meus pés no chão.
terça-feira, 20 de maio de 2014
Espera que o sol já vem
Da janela vejo o artista criar sem perceber
Ele nem sabe que isso é arte.
Ninguém desconfiava do seu dom
Pode parecer bobagem mas o seu céu se aproximou.
Aquela estrela chamada esperança o iluminou.
((Amar é arte, pois viver é criatividade))
Amandita
http://www.youtube.com/watch?v=bFtvXWT5cKo
Ele nem sabe que isso é arte.
Ninguém desconfiava do seu dom
Pode parecer bobagem mas o seu céu se aproximou.
Aquela estrela chamada esperança o iluminou.
((Amar é arte, pois viver é criatividade))
Amandita
http://www.youtube.com/watch?v=bFtvXWT5cKo
terça-feira, 13 de maio de 2014
Lágrimas de sentimento precisavam cair
A cada lágrima um sentimento
Primeiro a inveja por ter escrito palavras tão lindas e assumido seus sentimentos por alguém;
Depois a tristeza de ver minhas esperanças indo embora sem dizer adeus;
Por fim a felicidade por saber que está seguindo em frente...
Dando uma chance ao seu coração.
"É, pode ser que a maré não vire
Pode ser do vento vir contra o cais
E se já não sinto os teus sinais
Pode ser da vida acostumar"
Primeiro a inveja por ter escrito palavras tão lindas e assumido seus sentimentos por alguém;
Depois a tristeza de ver minhas esperanças indo embora sem dizer adeus;
Por fim a felicidade por saber que está seguindo em frente...
Dando uma chance ao seu coração.
"É, pode ser que a maré não vire
Pode ser do vento vir contra o cais
E se já não sinto os teus sinais
Pode ser da vida acostumar"
sábado, 12 de abril de 2014
Eu quis
Por tanto tempo a vergonha
Um vacilo imperdoável,
O exemplo a não ser seguido
Mas vergonha do que e de quem?
A vida não seria minha, ou quase isso?
Não temos controle total de nós mesmos
A qualquer momento um ponto.
Ao refletir agora não sinto mais a vergonha
Percebo que foi essencial para perceber...
Para perceber que sei o que quero
e mesmo não sabendo eu posso querer
Sei que antes havia imaturidade e
a dependência
Se continuasse não aguentaria
Com certeza sufocaria
As pessoas mudam ou querem mudar.
Eu quis.
_Amandita_
((( http://www.youtube.com/watch?v=KENfKdig7sc ))))
"Toda chance que você têm é uma chance de você aproveitar - Coldplay"
Um vacilo imperdoável,
O exemplo a não ser seguido
Mas vergonha do que e de quem?
A vida não seria minha, ou quase isso?
Não temos controle total de nós mesmos
A qualquer momento um ponto.
Ao refletir agora não sinto mais a vergonha
Percebo que foi essencial para perceber...
Para perceber que sei o que quero
e mesmo não sabendo eu posso querer
Sei que antes havia imaturidade e
a dependência
Se continuasse não aguentaria
Com certeza sufocaria
As pessoas mudam ou querem mudar.
Eu quis.
_Amandita_
((( http://www.youtube.com/watch?v=KENfKdig7sc ))))
"Toda chance que você têm é uma chance de você aproveitar - Coldplay"
sábado, 5 de abril de 2014
luz refletida
Minhas palavras se esgotaram.
Existe a canção mas está sem tom.
Seus dias de sombra não acabaram.
Na janela uma fresta de luz que ainda teima.
Vejo a lua refletindo a luz do sol
Estou tão distante mais ainda posso me encantar
Leio os seus versos e sinto o mesmo.
Sei que está longe mas sei que está lá.
Não se apague.
_Amandita_
Existe a canção mas está sem tom.
Seus dias de sombra não acabaram.
Na janela uma fresta de luz que ainda teima.
Vejo a lua refletindo a luz do sol
Estou tão distante mais ainda posso me encantar
Leio os seus versos e sinto o mesmo.
Sei que está longe mas sei que está lá.
Não se apague.
_Amandita_
domingo, 16 de março de 2014
HOMEM SE APAIXONA FÁCIL, MAS AMA DIFÍCIL
HOMEM SE APAIXONA FÁCIL, MAS AMA DIFÍCIL
Escrito por: Fabrício Carpinejar
Homem se apaixona fácil, o que ele tem medo é de amar.
Mulher não se apaixona fácil, mas não tem medo de amar.
São dois fusos diferentes. São duas realidades em desacordo.
Homem logo se entrega para um relacionamento, não mede esforços para ficar com alguém, renuncia sua vida e seus prazeres mais essenciais, altera sua rotina. Na paixão, sua generosidade é corajosa. Facilita as saídas aos bares e restaurantes, facilita a intimidade na casa, facilita o arrebatamento. Nada incomoda, nada atrapalha, nenhum defeito é contabilizado.
Sua complicação é quando passa a amar, quando larga a fase da aventura e do desconhecimento dos meses iniciais para fazer plano junto. Daí ele estaciona, emperra. Tanto que sofre horrores para dizer o primeiro eu te amo. Tanto que sofre horrores para misturar as escovas de dente. Tanto que sofre horrores para dividir as prateleiras. É como se não pensasse até aquele momento.
Na paixão, ele não avalia as separações anteriores, suas falhas de sistema, suas fobias de convivência. Explode por intuição, desmemoriado. É vir o amor que ele recua, entra em julgamento, contrai o olhar e economiza as palavras. É consolidar os laços que se confunde, acumula receios e inventa desculpas.
A mulher é exatamente o contrário, e bem mais coerente. Leva tempo para se apegar, questiona de saída, é desconfiada na paixão, cética na paixão, contida na paixão. Sofre passo a passo. Empenha malha fina da personalidade na apresentação. Sua instabilidade é de imediato, sua crise de consciência é no começo. Quando descobre que gosta realmente, é que se liberta e derruba suas defesas. É realizar projetos e formular expectativas que se solta e se desinibe. Para ela, o amor acontece mais natural do que a paixão. Paixão é choque, dói; amor é costume, cicatriza.
Homem diz “Não quero me envolver”. A mulher diz “não quero me apaixonar”. As declarações são representativas. Ele recusa intimidade após o contato, ela pretende evitar qualquer contato, já que a intimidade não a assusta.
Homem mergulha para reclamar da água. A mulher experimenta a água antes de entrar.
Homem tem primeiro certeza para depois duvidar. A mulher duvida até cansar sua cautela.
Homem oferece tudo para retirar gradualmente. A mulher esconde tudo para oferecer aos poucos.
Homem se mostra desembaraçado e, em seguida temeroso. Mulher se apresenta temerosa e, em seguida, desembaraçada.
Homem decide rápido para desmanchar lentamente sua convicção. Mulher demora a se decidir, mas não volta atrás.
Homem é paixão. Mulher é amor.
Sua complicação é quando passa a amar, quando larga a fase da aventura e do desconhecimento dos meses iniciais para fazer plano junto. Daí ele estaciona, emperra. Tanto que sofre horrores para dizer o primeiro eu te amo. Tanto que sofre horrores para misturar as escovas de dente. Tanto que sofre horrores para dividir as prateleiras. É como se não pensasse até aquele momento.
Na paixão, ele não avalia as separações anteriores, suas falhas de sistema, suas fobias de convivência. Explode por intuição, desmemoriado. É vir o amor que ele recua, entra em julgamento, contrai o olhar e economiza as palavras. É consolidar os laços que se confunde, acumula receios e inventa desculpas.
A mulher é exatamente o contrário, e bem mais coerente. Leva tempo para se apegar, questiona de saída, é desconfiada na paixão, cética na paixão, contida na paixão. Sofre passo a passo. Empenha malha fina da personalidade na apresentação. Sua instabilidade é de imediato, sua crise de consciência é no começo. Quando descobre que gosta realmente, é que se liberta e derruba suas defesas. É realizar projetos e formular expectativas que se solta e se desinibe. Para ela, o amor acontece mais natural do que a paixão. Paixão é choque, dói; amor é costume, cicatriza.
Homem diz “Não quero me envolver”. A mulher diz “não quero me apaixonar”. As declarações são representativas. Ele recusa intimidade após o contato, ela pretende evitar qualquer contato, já que a intimidade não a assusta.
Homem mergulha para reclamar da água. A mulher experimenta a água antes de entrar.
Homem tem primeiro certeza para depois duvidar. A mulher duvida até cansar sua cautela.
Homem oferece tudo para retirar gradualmente. A mulher esconde tudo para oferecer aos poucos.
Homem se mostra desembaraçado e, em seguida temeroso. Mulher se apresenta temerosa e, em seguida, desembaraçada.
Homem decide rápido para desmanchar lentamente sua convicção. Mulher demora a se decidir, mas não volta atrás.
Homem é paixão. Mulher é amor.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
"Amar é a eterna inocência, e a unica inocência é não pensar..."
- O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
_Fernando Pessoa_
domingo, 5 de janeiro de 2014
Digno Samurai
Dominadores da luta com flechas e espadas.
Determinados e seguros em suas batalhas.
Durante todo o tempo honram sua família.
Diante de qualquer situação fiéis sem covardia.
Dispostos e enérgicos no exercício do seu dever.
Demostram segurança, sem tempo para temer.
Diante da vida que tem o seu fim, a honra torna-se imortal
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
be yourself
Estou sendo abençoada por Deus todos os dias.
Com novas rotinas, novas conquistas e novos desafios.
Nesse caminho conhecendo pessoas maravilhosas.
You may win or lose but be yourself is all that you can do. Audioslave
Música: (((http://www.youtube.com/watch?v=dZgrsIaX9PI)))
Com novas rotinas, novas conquistas e novos desafios.
Nesse caminho conhecendo pessoas maravilhosas.
You may win or lose but be yourself is all that you can do. Audioslave
Música: (((http://www.youtube.com/watch?v=dZgrsIaX9PI)))
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Poema: Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Meu tempo é quando
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
(Vinicius de Moraes)
- pois é...Dia 1º de novembro desfiz 24 anos
(((http://www.youtube.com/watch?v=phWE2cai78I)))
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
(Vinicius de Moraes)
- pois é...Dia 1º de novembro desfiz 24 anos
(((http://www.youtube.com/watch?v=phWE2cai78I)))
De Tudo Ficaram Três Coisas
De tudo ficaram três coisas:
A certeza de que estamos começando,
A certeza de que é preciso continuar e
A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar
Fazer da interrupção um caminho novo,
Fazer da queda um passo de dança,
Do medo uma escola,
Do sonho uma ponte,
Da procura um encontro,
E assim terá valido a pena existir!
FERNANDO SABINO
sábado, 26 de outubro de 2013
Pequeno Girassol
O girassol que plantei está nascendo!!
No coração de quem faz a guerra nascerá uma flor amarela, como um girassol...
[[[http://www.youtube.com/watch?v=JjhezKsKwLU]]]
eu: - Nem acreditava que ia nascer!
irmã: - Veja como a natureza é né! ^^
[[[http://www.youtube.com/watch?v=JjhezKsKwLU]]]
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Entre 8 e 80
Entre meu 8 e meu 80, entre minha lágrima e meu sorriso, entre a minha coragem e minha covardia, entre minha saudade e meu orgulho, entre meu abraço e a meu distanciamento... entre todos os meus extremos você estava presente. Até mesmo em meus pensamentos, seja por muitas horas do meu dia ou por pouquíssimos segundos.
[[Lágrimas é o que se paga por minutos de sorrisos? Vale a pena? Não sei.]]
[[Equilibrar-me-ei!]]
_Amandita_
Crescei, luar
Prá iluminar as trevas...
(((http://www.youtube.com/watch?v=E1Dc7VRdnNc))) Djavan- Samurai
[[Lágrimas é o que se paga por minutos de sorrisos? Vale a pena? Não sei.]]
[[Equilibrar-me-ei!]]
_Amandita_
Crescei, luar
Prá iluminar as trevas...
(((http://www.youtube.com/watch?v=E1Dc7VRdnNc))) Djavan- Samurai
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Vendo filmes
Ontem eu assisti o filme "Aprendendo a amar" e hoje assisti "Meia-noite em Paris". Sim, uma overdose de comédias-românticas!
Frase do Filme:
O primeiro descreve com humor as diferenças entre o homem e a mulher em um relacionamento. As vezes, até parecia que a protagonista estava tirando as críticas, em relação aos homens, da minha mente. Seu título original é "Rabbit Without Ears" nada a ver com a tradução, né? Parece que lançaram o 2 e eu vou assistir com certeza!
Já o segundo, é um romance que não expressa o amor de duas pessoas, mas entre um homem e um lugar, entre um homem e um tempo. O filme retrata a Síndrome da Era de Ouro. Essa síndrome desenvolve naquelas pessoas que creem que seriam mais felizes em outras épocas, naquelas que se encantam com a beleza de outros anos. Mas a realidade do presente cedo ou tarde aparece, não é mesmo?
Frase do Filme:
"Um homem apaixonado por uma mulher de uma época diferente.
Vejo uma fotografia.
Vejo um filme.
Vejo um problema insuperável.
Salvador Dali diz: Eu vejo... um rinoceronte."
Vejo uma fotografia.
Vejo um filme.
Vejo um problema insuperável.
Salvador Dali diz: Eu vejo... um rinoceronte."
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Saudade do que não se viveu
Saudade do que não se viveu.
Não há satisfação com nada. Os nós não foram desatados.
Espera-se a sexta-feira e não aproveita os outros dias da semana.
Espera-se as férias e desperdiça os outros meses do ano.
Espera-se por um feriado e não aprecia a noite de céu estralado.
Espera-se e perda de tempo.
Deitar no seu peito e ouvir seus batimentos eu sei o que seria...
Seria o melhor tempo desperdiçado.
Seria te sentir vivo de novo - Alegria!
_Amandita_
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Escreverei hoje!!
Eu posso escrever tudo o que eu sinto hoje e amanhã tudo mudar.
Eu posso escrever tudo o que eu sinto hoje e amanhã vir a esquecer.
Eu posso escrever tudo o que eu sinto hoje e amanhã simplesmente discordar.
Espera aí!
Eu posso escrever tudo o que eu sinto?
Não! Palavras podem indicar algo, mas jamais transparecerá
os desejos mais intensos,
as tristezas mais profundas e
as alegrias mais singelas.
E mesmo assim vale a pena escrever!
[[Infinidade de ideias, infinidade de emoções, infinidade de palavras, infinidade de aprendizados inspiradas a cada dia, e a cada noite ao dormir infinidades a expirar. É o ladrão das lembranças! ]]
[[Mas algo sempre vai ficar guardado, ainda que não saiba, estará dentro do "cofre da mente". E mesmo que não lembre a senha para abri-lo, saberá que ali está. ]]
_Amandita_
**___ http://www.youtube.com/watch?v=1AtoIwnWfoA ____**
Não sei quantas almas tenho
Hoje só vou postar uma poema. Só? Mas ele diz tanto!
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
domingo, 6 de outubro de 2013
Saúde mental
Hoje fiz uma prova, nem sei se fui bem ou se fui mal. Pra falar a verdade eu nunca sei!
Quem faz prova com frequência sabe como é chato ler aqueles textos enormes de português em um tempo reduzido, mas hoje eu adorei, pois a banca adaptou um texto de Rubem Alves!! *-* (Que homem sábio!!)
Vou postar o texto na integra aqui. Acho que o autor, talvez, nos aconselhasse a aproveitar o sabor da leitura, ler cada parágrafo, frase e palavra sem pressa. Mastigar o texto e não engoli-lo de uma só vez!
P.S.: E na capa da prova tinha essa frase:
[[["A curiosidade é mais importante do que o conhecimento." - Albert Einstein.]]]
Prova pra pedagoga né?! Tinha que ser!!
Adorei!!
Quem faz prova com frequência sabe como é chato ler aqueles textos enormes de português em um tempo reduzido, mas hoje eu adorei, pois a banca adaptou um texto de Rubem Alves!! *-* (Que homem sábio!!)
Vou postar o texto na integra aqui. Acho que o autor, talvez, nos aconselhasse a aproveitar o sabor da leitura, ler cada parágrafo, frase e palavra sem pressa. Mastigar o texto e não engoli-lo de uma só vez!
SAÚDE MENTAL
Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maikóvski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. van Gogh se matou. Wittgenstein se alegrou ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakóvski suicidou.
Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.
Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias se comportam bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado, nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme!), ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, que tenha a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é coisa muito perigosa...
Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idiotas de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. É claro que nenhuma mamãe consciente quererá que o seu filho seja como van Gogh ou Maiakóvski. O desejável é que seja executivo de grande empresa, na pior das hipóteses funcionário do Banco do Brasil ou da CPFL. Preferível ser elefante ou tartaruga a ser borboleta ou condor. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego. Mas nunca ouvi falar de político que tivesse stress ou depressão, com excessão do Suplicy. Andam sempre fortes e certos de si mesmos, em passeatas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.
Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas se chama hardware, literalmente coisa dura e a outra se denomina software, coisa mole. A hardware é constituída por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. A software é constituída por entidades espirituais - símbolos, que formam os programas e são gravados nos disquetes.
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos, o cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo espirituais, sendo que o programa mais importante é linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso de símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.
Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos do Drummond e o corpo fica excitado.
Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e acessórios, o software, tenha a capacidade de ouvir a música que ele toca, e de se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta, e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei, no princípio: a música que saía do seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou.
A beleza pode fazer mal à saúde mental. Sábias, portanto, são as empresas estatais, que têm retratos dos governadores e presidentes espalhados por todos os lados: eles estão lá para exorcizar a beleza e para produzir o suave estado de insensibilidade necessário ao bom trabalho.
Dadas essas reflexões científicas sobre a saúde mental, vai aqui uma receita que, se seguida à risca, garantirá que ninguém será afetado pelas perturbações que afetaram os senhores que citei no início, evitando assim o triste fim que tiveram.
Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente perigosos. Já o roque pode ser tomado à vontade, sem contra indicações. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do Dr. Lair Ribeiro, por que arriscar-se a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. A saúde mental é um estômago que entra em convulsão sempre que lhe é servido um prato diferente. Por isso que as pessoas de boa saúde mental têm sempre as mesmas idéias. Essa cotidiana ingestão do banal é condição necessária para a produção da dormência da inteligência ligada à saúde mental. E, aos domingos, não se esqueca do Sílvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo esta receita você terá uma vida tranquila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, ao invés de ter o fim que tiveram os senhores que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já não mais saberá como eles eram.
Rubem Alves (Provavelmente escrito em 1994)
P.S.: E na capa da prova tinha essa frase:
[[["A curiosidade é mais importante do que o conhecimento." - Albert Einstein.]]]
Prova pra pedagoga né?! Tinha que ser!!
Adorei!!
sábado, 5 de outubro de 2013
Metade tempo e outra metade sorte
I might have to wait
I'll never give up
I guess It's half timing
And the other half's luck
Eu talvez tenha que esperar
Eu nunca vou desistir
Eu acho que é metade tempo
E a outra metade é sorte
-Haven't Met You Yet
-Michael Bublé
**Ouvi essa música hoje e achei tão bonitinha, então resolvi colocar ela aqui! Pra quem quiser ouvir:
[[[[ http://www.youtube.com/watch?v=DhzUid6u0hY ]]]]
**A charge eu já tinha salvado no meu computador faz um tempo, pois achei super engraçadinha! E tem a ver com a música!!
Só uma passadinha rápida aqui!
Voltando aos estudos!! ;)
Amandta
**Ouvi essa música hoje e achei tão bonitinha, então resolvi colocar ela aqui! Pra quem quiser ouvir:
[[[[ http://www.youtube.com/watch?v=DhzUid6u0hY ]]]]
**A charge eu já tinha salvado no meu computador faz um tempo, pois achei super engraçadinha! E tem a ver com a música!!
Só uma passadinha rápida aqui!
Voltando aos estudos!! ;)
Amandta
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
SUTILMENTE
E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe
E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce
Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
[[[[Subitamente se afaste?!?!]]]]
Dança
Ele sorri quando faz ela se movimentar
Ela fecha os olhos ao se entregar
Ele ilumina os passos dela
Ela faz ele brilhar
Ele sincronia
Ela leveza
_Amandita_
___________
Que vontade de dançar como o casal do vídeo...exige esforço e dedicação como TUDO na vida!
[[[ http://www.youtube.com/watch?v=ITRCYkFMqfk ]]]
Se eu conseguir 50% disso já ficaria feliz!! haha
Voltarei a dançar, em breve! ;)
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Eu gostei!! ^^
Ela fecha os olhos ao se entregar
Ele ilumina os passos dela
Ela faz ele brilhar
Ele sincronia
Ela leveza
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quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Máscaras
MÁSCARAS
Menotti Del PicchiaPERSONAGENS:
Arlequim : Um desejo
Pierrot : Um Sonho
Colombina: A Mulher
Em qualquer terra em que os homens amem.
Em qualquer tempo onde os homens sonhem.
Na vida.
Na vida.
BEIJO DE ARLEQUIM
I
O crescente cintila como uma cimitarra. Lírios longos, grandes mãos
brancas estendidas para o luar, bracejam nas pontas das hastes. Uma
balaustrada. Uma bandurra. Um Arlequim. Um Pierrot E, sobre as
máscaras e os lírios, a volúpia da noite, cheia de arrepios e de aromas.
brancas estendidas para o luar, bracejam nas pontas das hastes. Uma
balaustrada. Uma bandurra. Um Arlequim. Um Pierrot E, sobre as
máscaras e os lírios, a volúpia da noite, cheia de arrepios e de aromas.
ARLEQUIM diz:
Foi assim: deslumbrava a fidalga beleza da turba nos salões da Senhora
Duquesa.
Um cravo, em tom menor, numa voz quase humana, tecia o madrigal de
uma antiga pavana. Eu descera ao jardim. Cheirava a heliotrópio e vi,
como quem vê num vago sonho de ópio, uma loura mulher...
Duquesa.
Um cravo, em tom menor, numa voz quase humana, tecia o madrigal de
uma antiga pavana. Eu descera ao jardim. Cheirava a heliotrópio e vi,
como quem vê num vago sonho de ópio, uma loura mulher...
PIERROT
Loura?
Loura?
ARLEQUIM
Como as espigas...
Como os raios de sol e as moedas antigas...Notei-lhe, sob o luar, a cabeleira
crespa, anca em forma de lira e a cintura de vespa, um cravo no listão que o
seio lhe bifurca, pezinhos de mousmé, olhos grandes, de turca... A boca, onde
o sorriso era como uma abelha, recendia tal qual uma rosa vermelha.
PIERROT
Falaste-lhe?
ARLEQUIM
Falei...
PIERROT
E a voz?
ARLEQUIM
Vaga e fugace.
Tinha a voz de uma flor, se acaso a flor falasse...
Como as espigas...
Como os raios de sol e as moedas antigas...Notei-lhe, sob o luar, a cabeleira
crespa, anca em forma de lira e a cintura de vespa, um cravo no listão que o
seio lhe bifurca, pezinhos de mousmé, olhos grandes, de turca... A boca, onde
o sorriso era como uma abelha, recendia tal qual uma rosa vermelha.
PIERROT
Falaste-lhe?
ARLEQUIM
Falei...
PIERROT
E a voz?
ARLEQUIM
Vaga e fugace.
Tinha a voz de uma flor, se acaso a flor falasse...
PIERROT
E depois?
ARLEQUIM
Eu fiquei, sob a noite estrelada, decidido a ousar tudo e não ousando
nada...
Vinha dela, pelo ar, espiritualizado numa onda volúpia, um cheiro de
pecado...
Tinha a fascinação satânica, envolvente, que tem por um batráquio o
olhar duma serpente... e fiquei, mudo e só, deslumbrado e tristonho,
sentindo que era real o que eu julgava um sonho! Em redor o jardim
recendia.
Umas poucas
tulipas cor de sangue, abertas como bocas, pela voz do perfume
insinuavam perfídias...
E depois?
ARLEQUIM
Eu fiquei, sob a noite estrelada, decidido a ousar tudo e não ousando
nada...
Vinha dela, pelo ar, espiritualizado numa onda volúpia, um cheiro de
pecado...
Tinha a fascinação satânica, envolvente, que tem por um batráquio o
olhar duma serpente... e fiquei, mudo e só, deslumbrado e tristonho,
sentindo que era real o que eu julgava um sonho! Em redor o jardim
recendia.
Umas poucas
tulipas cor de sangue, abertas como bocas, pela voz do perfume
insinuavam perfídias...
Tremia de pudor a carne das orquídeas... Os lírios senhoreais, esbeltos
como galgos, abriram para o céu cinco dedos fidalgos fugindo à mão flora
l do cálix longo e fino.
Um repuxo cantava assim como um violino e, orquestrando pelo ar as
harmonias rotas, desmanchava-se em sons, ao desfazer-se em gotas!
Entre a noite e a mulher, eu trêmulo hesitava: se a noite seduzia, a
mulher deslumbrava!
Dei uns passos
Ao ruído agitou-se assustada. Viu-me...
como galgos, abriram para o céu cinco dedos fidalgos fugindo à mão flora
l do cálix longo e fino.
Um repuxo cantava assim como um violino e, orquestrando pelo ar as
harmonias rotas, desmanchava-se em sons, ao desfazer-se em gotas!
Entre a noite e a mulher, eu trêmulo hesitava: se a noite seduzia, a
mulher deslumbrava!
Dei uns passos
Ao ruído agitou-se assustada. Viu-me...
PIERROT
E ela que fez?
E ela que fez?
ARLEQUIM
Deu uma gargalhada.
Deu uma gargalhada.
PIERROT
Por que?
Por que?
ARLEQUIM
Sei lá! Mulher...Talvez porque ela achasse ridículo Arlequim com ar de
Lovelace...
Aconcheguei-me mais: “Deus a guarde, Senhora!”
- Obrigada. Quem és?
- “Um arlequim que a adora!”
Sei lá! Mulher...Talvez porque ela achasse ridículo Arlequim com ar de
Lovelace...
Aconcheguei-me mais: “Deus a guarde, Senhora!”
- Obrigada. Quem és?
- “Um arlequim que a adora!”
Vinha do seio dela, entre a renda e a miçanga, um cheiro de mulher e um
cheiro de cananga. Eram os olhos seus, sob a fronte alva e breve, como
dois astros de ouro a arder num céu de neve. Mordia, por não rir, o lábio
úmido e langue, vermelho como um corte ainda vertendo sangue...
E falei-lhe de amor...
cheiro de cananga. Eram os olhos seus, sob a fronte alva e breve, como
dois astros de ouro a arder num céu de neve. Mordia, por não rir, o lábio
úmido e langue, vermelho como um corte ainda vertendo sangue...
E falei-lhe de amor...
PIERROT
E ela?
ARLEQUIM
Ficou calada...
Meu amor disse tudo, ela não disse nada, mas ouviu , com prazer, a frase
que renova no amor que é sempre velho, a emoção sempre nova!
E ela?
ARLEQUIM
Ficou calada...
Meu amor disse tudo, ela não disse nada, mas ouviu , com prazer, a frase
que renova no amor que é sempre velho, a emoção sempre nova!
PIERROT
Que lhe disseste enfim?
Que lhe disseste enfim?
ARLEQUIM
O ardor do meu desejo,
a glória de arrancar dos seus lábios um beijo, a volúpia infernal dos seus
olhos devassos, o prazer de a estreitar , nervoso, nos meus braços, de
sentir a lascívia heril dos seus meneios, esmagar no meu peito a carne
dos seus seios!
O ardor do meu desejo,
a glória de arrancar dos seus lábios um beijo, a volúpia infernal dos seus
olhos devassos, o prazer de a estreitar , nervoso, nos meus braços, de
sentir a lascívia heril dos seus meneios, esmagar no meu peito a carne
dos seus seios!
PIERROT, assustado:
Tu ousaste demais...
Tu ousaste demais...
ARLEQUIM, cínico:
Ingênuo! A mulher bela
adora quem lhe diz tudo o que é lindo nela. Ousa tudo, porque todo o
homem enamorado se arrepende, afinal, de não ter tudo ousado.
Ingênuo! A mulher bela
adora quem lhe diz tudo o que é lindo nela. Ousa tudo, porque todo o
homem enamorado se arrepende, afinal, de não ter tudo ousado.
PIERROT
E ela?
E ela?
ARLEQUIM
Vinha pelo ar, dos zéfiros no adejo, um perfume de amor lascivo como
um beijo, como se o mundo em flor vibrasse, quente e vivo, no erotismo
triunfal de um amor coletivo!
Vinha pelo ar, dos zéfiros no adejo, um perfume de amor lascivo como
um beijo, como se o mundo em flor vibrasse, quente e vivo, no erotismo
triunfal de um amor coletivo!
PIERROT, fremindo:
E ela?
E ela?
ARLEQUIM
Ansiando, ouviu toda essa paixão louca, levantou-se...
Ansiando, ouviu toda essa paixão louca, levantou-se...
PIERROT
Depois?
Depois?
ARLEQUIM , triunfante:
Deu-me um beijo na boca!
Deu-me um beijo na boca!
Um silêncio cheio de frêmito. Os lírios tremem. Pierrot
olha o crescente. Arlequim dá um passo, vê a brandura,
toma-a entre as mãos nervosas e magras e tange, distraído,
as cordas que gemem.
olha o crescente. Arlequim dá um passo, vê a brandura,
toma-a entre as mãos nervosas e magras e tange, distraído,
as cordas que gemem.
ARLEQUIM
Linda viola.
Linda viola.
PIERROT, alheado:
Bom som...
Bom som...
ARLEQUIM
Que musicais surpresas não encerra a mudez
destas cordas retesas...
Que musicais surpresas não encerra a mudez
destas cordas retesas...
Confidencial a Pierrot:
Olha: penso, Pierrot, que não existe em suma, entre a viola e a mulher,
diferença nenhuma. Questão de dedilhar, com certa audácia e calma,
numa...estas cordas de aço, e na outra...as cordas d’alma!
Olha: penso, Pierrot, que não existe em suma, entre a viola e a mulher,
diferença nenhuma. Questão de dedilhar, com certa audácia e calma,
numa...estas cordas de aço, e na outra...as cordas d’alma!
Suavemente, exaltando-se:
O beijo da mulher! Ó sinfonia louca da sonata que o amor improvisa na
boca... No contado do lábio, onde a emoção acorda, sentir outro vibrar,
como vibra uma corda... À vaga orquestração da frase que sussurra ver
um corpo fremir tal qual uma bandurra...Desfalecer ouvindo a música
que canta no gemido de amor que morre na garganta...Colar o lábio
ardente à flor de um seio lindo, ir aos poucos subindo...ir aos poucos
subindo...até alcançar a boca e escutar, num arquejo, o universo parar
na síncope de um beijo!
boca... No contado do lábio, onde a emoção acorda, sentir outro vibrar,
como vibra uma corda... À vaga orquestração da frase que sussurra ver
um corpo fremir tal qual uma bandurra...Desfalecer ouvindo a música
que canta no gemido de amor que morre na garganta...Colar o lábio
ardente à flor de um seio lindo, ir aos poucos subindo...ir aos poucos
subindo...até alcançar a boca e escutar, num arquejo, o universo parar
na síncope de um beijo!
....................................................................................................................
Eis toda a arte de amar! Eis, Pierrot fantasista, a suprema criação da
minha alma de artista. Compreendes?
Eis toda a arte de amar! Eis, Pierrot fantasista, a suprema criação da
minha alma de artista. Compreendes?
PIERROT, ansiado:
E a mulher?
E a mulher?
ARLEQUIM, lugubremente:
A mulher? É verdade...
Levou naquele beijo a minha mocidade.
A mulher? É verdade...
Levou naquele beijo a minha mocidade.
PIERROT
E agora? Onde ela está?
E agora? Onde ela está?
ARLEQUIM, ironicamente místico:
No meu lábio, no ardor desse beijo, que é todo um romance de amor!
Seduzido pela angústia da saudade:
No meu lábio, no ardor desse beijo, que é todo um romance de amor!
Seduzido pela angústia da saudade:
No temor de pedi-lo e na glória de tê-lo...
No gozo de prová-lo e na dor de perdê-lo...
No contato desfeito e no rumor já mudo...
No prazer que passou...Nesse nada que é tudo:
O passado!... a lembrança... a saudade... o desejo...
No gozo de prová-lo e na dor de perdê-lo...
No contato desfeito e no rumor já mudo...
No prazer que passou...Nesse nada que é tudo:
O passado!... a lembrança... a saudade... o desejo...
Balbuciando:
Um jardim... Um repuxo...Uma mulher... Um beijo....
Um jardim... Um repuxo...Uma mulher... Um beijo....
(Longo silêncio cheio de evocação e de cismas).
PIERROT, ingenuamente:
É audaciosa demais a tua história...
ARLEQUIM, ríspido:
Enfim,
um Arlequim, Pierrot, é sempre um Arlequim. Toda história de amor só
presta se tiver, como ponto final, um beijo de mulher!
É audaciosa demais a tua história...
ARLEQUIM, ríspido:
Enfim,
um Arlequim, Pierrot, é sempre um Arlequim. Toda história de amor só
presta se tiver, como ponto final, um beijo de mulher!
O SONHO DE PIERROT
II
PIERROT
Eu também, Arlequim, nesta vida ilusória, como todos Pierrots, eu
tenho uma história, vaga, talvez banal, mas triste como um cântico...
Eu também, Arlequim, nesta vida ilusória, como todos Pierrots, eu
tenho uma história, vaga, talvez banal, mas triste como um cântico...
ARLEQUIM, sarcástico:
Não compreendo um Pierrot que não seja romântico, branco como o
marfim, magro como um caniço, enchendo o mundo de ais, sem nunca
passar disso.
Não compreendo um Pierrot que não seja romântico, branco como o
marfim, magro como um caniço, enchendo o mundo de ais, sem nunca
passar disso.
PIERROT
Debochado Arlequim!
Debochado Arlequim!
ARLEQUIM
Branco Pierrot tristonho...
Branco Pierrot tristonho...
PIERROT
Teu amor é lascívia!
Teu amor é lascívia!
ARLEQUIM
E o teu amor é sonho...
E o teu amor é sonho...
PIERROT
É tão doce sonhar!... A vida , nesta terra, vale apenas, talvez, pelo sonho
que encerra. Ver vaga e espiritual, das cismas nos refolhos, toda uma vida
arder na tristeza de uns olhos; não tocar a que se ama e deixar intangida
aquela que resume a nossa própria vida, eis o amor, Arlequim. , misticismo
tristonho, que transforma a mulher na incerteza de um sonho....
É tão doce sonhar!... A vida , nesta terra, vale apenas, talvez, pelo sonho
que encerra. Ver vaga e espiritual, das cismas nos refolhos, toda uma vida
arder na tristeza de uns olhos; não tocar a que se ama e deixar intangida
aquela que resume a nossa própria vida, eis o amor, Arlequim. , misticismo
tristonho, que transforma a mulher na incerteza de um sonho....
ARLEQUIM, escarninho:
Esse amor tão sutil que teus nervos reclama só se aplica aos Pierrots?
Esse amor tão sutil que teus nervos reclama só se aplica aos Pierrots?
PIERROT
Não! A todos os que amam!
Aos que têm esse dom de encontrar a delícia na intenção da carícia e
nunca na carícia...Aos que sabem, como eu, ver que no céu reflete a
curva do crescente, um vulto de Pierrette...
Não! A todos os que amam!
Aos que têm esse dom de encontrar a delícia na intenção da carícia e
nunca na carícia...Aos que sabem, como eu, ver que no céu reflete a
curva do crescente, um vulto de Pierrette...
ARLEQUIM, zombeteiro:
Eterno sonhador! Tu crês que vive a esmo tudo aquilo que sai de dentro
de ti mesmo. Vês, se fitas o céus, garota e seminua, Colombina sentada
entre os cornos da lua...Quanta vezes não viste o seu olhar abstrato
nos fosfóreos vitrais das pupilas de um gato?
Eterno sonhador! Tu crês que vive a esmo tudo aquilo que sai de dentro
de ti mesmo. Vês, se fitas o céus, garota e seminua, Colombina sentada
entre os cornos da lua...Quanta vezes não viste o seu olhar abstrato
nos fosfóreos vitrais das pupilas de um gato?
PIERROT
Essas frases cruéis, que mordem como dentes, só mostram, Arlequim,
que somos diferentes. Mas minha alma, afinal, é compassiva e boa: não
compreendes Pierrot. E Pierrot te perdoa...
Essas frases cruéis, que mordem como dentes, só mostram, Arlequim,
que somos diferentes. Mas minha alma, afinal, é compassiva e boa: não
compreendes Pierrot. E Pierrot te perdoa...
ARLEQUIM
Tua história, vai lá! Senta-te nesse banco. Conta-me: “Era uma vez um
Pierrot muito branco...”
A história de um Pierrot sempre nisso consiste... Começa.
Tua história, vai lá! Senta-te nesse banco. Conta-me: “Era uma vez um
Pierrot muito branco...”
A história de um Pierrot sempre nisso consiste... Começa.
PIERROT narrando:
“Era uma vez... um Pierrot... muito triste... “
“Era uma vez... um Pierrot... muito triste... “
Uma voz, na distância, corta, argentina, a narração de Pierrot.
A VOZ
Foi um moço audaz, que vejo
no meu sonho claro e doce,
O amor que primeiro amei..
Abraçou-me: deu-me um beijo
e, depois, lento, afastou-se,
e nunca mais o encontrei.
no meu sonho claro e doce,
O amor que primeiro amei..
Abraçou-me: deu-me um beijo
e, depois, lento, afastou-se,
e nunca mais o encontrei.
Num ser pálido e doente
resume-se o que consiste
o segundo amor que amei.
Ele olhou-me tristemente...
Eu olhei-o muito triste...
E nunca mais o encontrei!
resume-se o que consiste
o segundo amor que amei.
Ele olhou-me tristemente...
Eu olhei-o muito triste...
E nunca mais o encontrei!
Esse amor deu-me o desejo
daquele beijo encontrar.
Mas nunca, reunidas, vejo,
a volúpia desse beijo,
e a tristeza desse olhar...
Mas nunca, reunidas, vejo,
a volúpia desse beijo,
e a tristeza desse olhar...
A voz agoniza nos ecos. Pierrot e Arlequim tendem o ouvido procurando
no ar mais uma estrofe.
no ar mais uma estrofe.
ARLEQUIM
Essa voz...
Essa voz...
PIERROT
Essa voz...
Essa voz...
ARLEQUIM
Só de ouvi-la estremeço...
Só de ouvi-la estremeço...
PIERROT
Eu conheço essa voz!
Eu conheço essa voz!
ARLEQUIM
Essa voz eu conheço...
Essa voz eu conheço...
Um sopro de brisa arrepia as plantas.
PIERROT
Escuta...
Escuta...
ARLEQUIM
Escuta...
Escuta...
PIERROT
Ouviste?
Ouviste?
ARLEQUIM
Um sussurro...
Um sussurro...
PIERROT
Um lamento...
ARLEQUIM
Foi o vento talvez.
Um lamento...
ARLEQUIM
Foi o vento talvez.
PIERROT
Sim. Talvez fosse o vento.
Sim. Talvez fosse o vento.
ARLEQUIM
Conta a história, Pierrot.
Conta a história, Pierrot.
Pierrot continuando:
Numa noite divina
como tu, num jardim, encontrei Colombina. Loira como um trigal e
branca como a lua.
como tu, num jardim, encontrei Colombina. Loira como um trigal e
branca como a lua.
ARLEQUIM
Era loira também?
Era loira também?
PIERROT
Tão loira como a tua...
Eu descera ao jardim quebrado de fadiga. Dançavam no salão...
Tão loira como a tua...
Eu descera ao jardim quebrado de fadiga. Dançavam no salão...
ARLEQUIM, interrompendo:
... uma pavana antiga,
e notaste ao luar a cabeleira crespa...
... uma pavana antiga,
e notaste ao luar a cabeleira crespa...
PIERROT
... a anca em forma de lira...
... a anca em forma de lira...
ARLEQUIM
... e a cintura de vespa!
... e a cintura de vespa!
PIERROT
Mãos mimosas, liriais...
Mãos mimosas, liriais...
ARLEQUIM
Em minúcias te expandes!
PIERROT
Um pé muito pequeno...
Em minúcias te expandes!
PIERROT
Um pé muito pequeno...
ARLEQUIM
Uns olhos muito grandes!
Uma mulher igual à que encontrei na vida?
Uns olhos muito grandes!
Uma mulher igual à que encontrei na vida?
PIERROT, ofendido:
Enganas-te, Arlequim, nem mesmo parecida!
Era tal a expressão do seu olhar profundo,
que não pode existir outro igual neste mundo!
Felinamente ardia a íris verdoenga e dúbia,
como o sinistro olhar de uma pantera núbia.
Enganas-te, Arlequim, nem mesmo parecida!
Era tal a expressão do seu olhar profundo,
que não pode existir outro igual neste mundo!
Felinamente ardia a íris verdoenga e dúbia,
como o sinistro olhar de uma pantera núbia.
Esses olhos fatais lembravam traiçoeiras
feras, armando ardis nos fojos das olheiras!
Tão vivos que, Arlequim, desvairado, os supus
duas bocas de treva e erguer brados de luz!
Tripudiavam o bem e o mal nos seus refolhos.
feras, armando ardis nos fojos das olheiras!
Tão vivos que, Arlequim, desvairado, os supus
duas bocas de treva e erguer brados de luz!
Tripudiavam o bem e o mal nos seus refolhos.
ARLEQUIM, cismando:
Essas coisas também ardiam nos seus olhos...
Essas coisas também ardiam nos seus olhos...
PIERROT
Tive medo, Arlequim! Vendo-os, num paroxismo
eu tinha a sensação de estar sobre um abismo.
Não sei porque o olhar dessa estranha criatura
era cheio de horror...e cheio de doçura!
Eu desejava arder nessas chamas inquietas...
Tive medo, Arlequim! Vendo-os, num paroxismo
eu tinha a sensação de estar sobre um abismo.
Não sei porque o olhar dessa estranha criatura
era cheio de horror...e cheio de doçura!
Eu desejava arder nessas chamas inquietas...
ARLEQUIM
Tendo o fim dos Pierrots?
Tendo o fim dos Pierrots?
PIERROT
Tendo o fim dos Poetas!
Aconcheguei-me dela, a alma vibrante louca, o coração batendo...
Tendo o fim dos Poetas!
Aconcheguei-me dela, a alma vibrante louca, o coração batendo...
ARLEQUIM
E beijaste-lhe a boca.
E beijaste-lhe a boca.
PIERROT, cismarento:
Não...Para que beijar? Para que ver, tristonho, no tédio do meu lábio
o vácuo do meu sonho... Beijo dado, Arlequim, tem amargos ressábios...
Sempre o beijo melhor é o que fica nos lábios,
esse beijo que morre assim como um gemido,
sem ter a sensação brutal de ser colhido...
Não...Para que beijar? Para que ver, tristonho, no tédio do meu lábio
o vácuo do meu sonho... Beijo dado, Arlequim, tem amargos ressábios...
Sempre o beijo melhor é o que fica nos lábios,
esse beijo que morre assim como um gemido,
sem ter a sensação brutal de ser colhido...
ARLEQUIM
E que disse a mulher?
E que disse a mulher?
PIERROT
Suspirou de desejo...
Suspirou de desejo...
ARLEQUIM , mordaz:
Preferia, bem vês, que lhe desses um beijo!
Preferia, bem vês, que lhe desses um beijo!
PIERROT
Não. Ela olhou-me. Olhei... E vi que, comovida, sentiu que , nesse
olhar, eu punha a minha vida...
Não. Ela olhou-me. Olhei... E vi que, comovida, sentiu que , nesse
olhar, eu punha a minha vida...
Um silêncio cheio de angústias vagas.
Sob o luar claro as almas brancas dos
Lírios evocam fantasmas de emoções
mortas. Os espectros das memórias
parecem recolher, como numa urna invi-
sível, a saudade romântica de Pierrot...
Sob o luar claro as almas brancas dos
Lírios evocam fantasmas de emoções
mortas. Os espectros das memórias
parecem recolher, como numa urna invi-
sível, a saudade romântica de Pierrot...
ARLEQUIM, tristonho:
Essa história, Pierrot, é um pouco merencória...
Essa história, Pierrot, é um pouco merencória...
PIERROT
A história desse olhar é toda a minha história.
A história desse olhar é toda a minha história.
ARLEQUIM
E não a viste mais?
E não a viste mais?
PIERROT
Nem sei mesmo se existe...
ARLEQUIM, contendo o riso:
É de fazer chorar! Tudo isso é muito triste!
Nem sei mesmo se existe...
ARLEQUIM, contendo o riso:
É de fazer chorar! Tudo isso é muito triste!
Tomando-o pelo braço, confidencialmente:
Entretanto, ouve aqui, à guisa de consolo:
diante dessa mulher...foste um Pierrot bem tolo!
Aprende, sonhador! Quando surgir o ensejo,
entre um beijo e um olhar, prefere sempre um beijo!
diante dessa mulher...foste um Pierrot bem tolo!
Aprende, sonhador! Quando surgir o ensejo,
entre um beijo e um olhar, prefere sempre um beijo!
PIERROT, desconsolado:
Lamentas-me Arlequim?
Lamentas-me Arlequim?
ARLEQUIM
Tu não compreendeste: choro não ter colhido o beijo que perdeste.
Tu não compreendeste: choro não ter colhido o beijo que perdeste.
III
O AMOR DE COLOMBINA
O AMOR DE COLOMBINA
Uma voz que canta se aproxima.
A VOZ
Esse olhar deu-me o desejo
daquele beijo encontrar,
mas nunca , reunidas, vejo
a volúpia desse beijo
e a tristeza desse olhar!
daquele beijo encontrar,
mas nunca , reunidas, vejo
a volúpia desse beijo
e a tristeza desse olhar!
PIERROT , extasiado:
Escutaste, Arlequim, que cantiga tão bela?
Escutaste, Arlequim, que cantiga tão bela?
ARLEQUIM
Era dela esta voz?
Era dela esta voz?
PIERROT
Esta voz era dela...
Esta voz era dela...
Arlequim está imerso na sombra e um raio de luar ilumina
Pierrot. Entra Colombina trazendo uma braçada de flores.
Pierrot. Entra Colombina trazendo uma braçada de flores.
COLOMBINA, vendo Pierrot:
Tu? Que fazes aqui?
Tu? Que fazes aqui?
PIERROT
Espero-te, divina...A sorte de um Pierrot é esperar Colombina!
Espero-te, divina...A sorte de um Pierrot é esperar Colombina!
COLOMBINA
Pela terra florida, olhos cheios de pranto, eu procurei-te muito...
Pela terra florida, olhos cheios de pranto, eu procurei-te muito...
PIERROT
E eu esperei-te tanto!
E eu esperei-te tanto!
COLOMBINA
Onde estavas, Pierrot? Entre as balsas amigas, tendo no peito um
sonho e no lábio cantigas, dizia a cada flor: “Mimosa flor, não viste
um Pierrot muito branco...”
PIERROT
Um Pierrot muito triste...
Onde estavas, Pierrot? Entre as balsas amigas, tendo no peito um
sonho e no lábio cantigas, dizia a cada flor: “Mimosa flor, não viste
um Pierrot muito branco...”
PIERROT
Um Pierrot muito triste...
COLOMBINA
E respondia a flor: “Sei lá... Nestas campinas passam tantos Pierrots
atrás de Colombinas...” E eu seguia e indagava: “Ó regato risonho:
não viste, por acaso, o Pierrot do meu sonho? “ E o regato correndo
e cantando, dizia: “Coro e canto e não vejo” - e cantava e corria... Nos
céus, erguendo o olhar, eu via, esguio e doente, o pálido Pierrot recurvo
do crescente...
Assim te procurei, entre as balsas amigas, tendo no peito um sonho
e no lábio cantigas, só porque, meu amor, uma noite, num banco, eu
encontrara olhar de um triste Pierrot branco.
PIERROT
Não! Não era um olhar! Ardia nessa chama
toda a angústia interior do meu peito que te ama
Nosso corpo é tal qual uma torre fechada
onde sonha , em seu bojo, uma alma encarcerada.
Mas se o corpo é essa torre em carne e sangue erguida,
O olhar é uma janela aberta para a vida,
e, na noite de cisma, enevoada e calma,
na janela do olhar se debruça nossa alma
E respondia a flor: “Sei lá... Nestas campinas passam tantos Pierrots
atrás de Colombinas...” E eu seguia e indagava: “Ó regato risonho:
não viste, por acaso, o Pierrot do meu sonho? “ E o regato correndo
e cantando, dizia: “Coro e canto e não vejo” - e cantava e corria... Nos
céus, erguendo o olhar, eu via, esguio e doente, o pálido Pierrot recurvo
do crescente...
Assim te procurei, entre as balsas amigas, tendo no peito um sonho
e no lábio cantigas, só porque, meu amor, uma noite, num banco, eu
encontrara olhar de um triste Pierrot branco.
PIERROT
Não! Não era um olhar! Ardia nessa chama
toda a angústia interior do meu peito que te ama
Nosso corpo é tal qual uma torre fechada
onde sonha , em seu bojo, uma alma encarcerada.
Mas se o corpo é essa torre em carne e sangue erguida,
O olhar é uma janela aberta para a vida,
e, na noite de cisma, enevoada e calma,
na janela do olhar se debruça nossa alma
COLOMBINA, languidamente abraçada a Pierrot:
Olha-me assim, Pierrot... Nada mais belo existe
que um Pierrot muito branco e um olhar muito triste...
Os teus olhos, Pierrot, são lindos como um verso.
Minh’alma é uma criança, e teus olhos um berço
com cadências de vaga e, à luz do teu olhar,
tenho ânsias de dormir, para poder sonhar!
Olha-me assim, Pierrot... Os teus olhos dardejam!
São dois lábios de luz que as pupilas me beijam...
São dois lagos azuis à luz clara do luar...
São dois raios de sol prestes a agonizar...
Olha-me assim Pierrot... Goza a felicidade
de poluir com esse olhar a minha mocidade
aberta para ti como uma grande flor,
meu amor...meu amor...meu amor...
que um Pierrot muito branco e um olhar muito triste...
Os teus olhos, Pierrot, são lindos como um verso.
Minh’alma é uma criança, e teus olhos um berço
com cadências de vaga e, à luz do teu olhar,
tenho ânsias de dormir, para poder sonhar!
Olha-me assim, Pierrot... Os teus olhos dardejam!
São dois lábios de luz que as pupilas me beijam...
São dois lagos azuis à luz clara do luar...
São dois raios de sol prestes a agonizar...
Olha-me assim Pierrot... Goza a felicidade
de poluir com esse olhar a minha mocidade
aberta para ti como uma grande flor,
meu amor...meu amor...meu amor...
PIERROT
Meu amor!
Meu amor!
Colombina e Pierrot abraçam-se ternamente. Há, como
um cicio de beijos, entre os canteiros dos lírios. Arlequim,
vendo-os, sai da treva e, com voz firme, chama.
um cicio de beijos, entre os canteiros dos lírios. Arlequim,
vendo-os, sai da treva e, com voz firme, chama.
ARLEQUIM
Colombina!
COLOMBINA, voltando-se assustada:
Colombina!
COLOMBINA, voltando-se assustada:
Quem é?
ARLEQUIM
Sou alguém, cuja sina foi amar, com Pierrot, a mesma
Colombina. Alguém que, num jardim, teve o sublime ensejo de
beijar-te e jamais se esquecer desse beijo!
Sou alguém, cuja sina foi amar, com Pierrot, a mesma
Colombina. Alguém que, num jardim, teve o sublime ensejo de
beijar-te e jamais se esquecer desse beijo!
COLOMBINA, desprendendo-se de Pierrot:
Tu, querido Arlequim!
Tu, querido Arlequim!
ARLEQUIM, galanteador:
Arlequim que te adora...Que te buscava há tanto e que te encontra agora.
Arlequim que te adora...Que te buscava há tanto e que te encontra agora.
COLOMBINA
E procurei-te em vão, mas te esperava ainda.
E procurei-te em vão, mas te esperava ainda.
ARLEQUIM a Pierrot:
Ela está mais mulher...
Ela está mais mulher...
PIERROT num êxtase:
Ai! Ela está mais linda!
Ai! Ela está mais linda!
ARLEQUIM, enfatuado, a Colombina:
É s linda, meu amor! Nessa formas perpassa
na cadência do Ritmo, a leveza da Graça.
Teus braços musicais, curvos como perfídia,
têm a graça sensual de uma estátua de Fídias.
Não sendo ainda mulher, nem sendo mais criança,
encarnas, grande viva, a Flor de Liz de França...
Sobe da anca uma curva ondulante que chega
a teu corpo plasmar como uma ânfora grega
e é teu vulto triunfal, longo, heráldico, esgalgo,
coleante como um cisne e esbelto como um galgo!
É s linda, meu amor! Nessa formas perpassa
na cadência do Ritmo, a leveza da Graça.
Teus braços musicais, curvos como perfídia,
têm a graça sensual de uma estátua de Fídias.
Não sendo ainda mulher, nem sendo mais criança,
encarnas, grande viva, a Flor de Liz de França...
Sobe da anca uma curva ondulante que chega
a teu corpo plasmar como uma ânfora grega
e é teu vulto triunfal, longo, heráldico, esgalgo,
coleante como um cisne e esbelto como um galgo!
COLOMBINA, fascinada:
Lindo!
Lindo!
ARLEQUIM
E não disse tudo... E não disse do riso
boêmio como ébrio e claro como um guizo.
E ainda não falei dessa voz de sereia
que, quando chora, canta, e quando ri, gorjeia...
E não disse tudo... E não disse do riso
boêmio como ébrio e claro como um guizo.
E ainda não falei dessa voz de sereia
que, quando chora, canta, e quando ri, gorjeia...
Não falei desse olhar cheio de magnetismo,
que fulge como um astro e atrai como um abismo,
e do beijo, que como uma carícia louca...
ainda canta em meu lábio e ainda sinto na boca!
que fulge como um astro e atrai como um abismo,
e do beijo, que como uma carícia louca...
ainda canta em meu lábio e ainda sinto na boca!
COLOMBINA com um voz sombria de volúpia:
Fala mais, Arlequim! Tua voz quente e langue
tem lascivo sabor de pecado e de sangue.
O venenoso amor que tua boca expele,
põe-me gritos na carne e arrepios na pele!
Fala mais, Arlequim! Quando te escuto, sinto
O desejo explodir das potências do instinto,
O brado da volúpia insopitada, a fúria,
do prazer latejando em uivos de luxúria!
Fala mais, Arlequim! Diz o ardor que enlouquece
a amada que se toca e aos poucos desfalece,
e que, cega de amor, lábio exangue, olhar pasmo,
agoniza num beijo e morre num espasmo.
Fala mais, Arlequim! Do monstruoso transporte
que, resumindo a vida, anseia pela morte,
dessa angústia fatal, que é o supremo prazer
da glória de se amar, para depois morrer!
Fala mais, Arlequim! Tua voz quente e langue
tem lascivo sabor de pecado e de sangue.
O venenoso amor que tua boca expele,
põe-me gritos na carne e arrepios na pele!
Fala mais, Arlequim! Quando te escuto, sinto
O desejo explodir das potências do instinto,
O brado da volúpia insopitada, a fúria,
do prazer latejando em uivos de luxúria!
Fala mais, Arlequim! Diz o ardor que enlouquece
a amada que se toca e aos poucos desfalece,
e que, cega de amor, lábio exangue, olhar pasmo,
agoniza num beijo e morre num espasmo.
Fala mais, Arlequim! Do monstruoso transporte
que, resumindo a vida, anseia pela morte,
dessa angústia fatal, que é o supremo prazer
da glória de se amar, para depois morrer!
PIERROT, num soluço:
Ai de mim!...
Ai de mim!...
COLOMBINA, como desperta:
Tu Pierrot!
Tu Pierrot!
PIERROT, num fio de voz:
Ai de mim que, tristonho, trazia
à tua vida a oferta do meu sonho...Pouca coisa, porém... Uma alma
ardente e inquieta arrastando na terra um coração de poeta.
Na velha Ásia, a Jesus, em Belém, um Rei Mago, não tendo outro
partiu através de Cartago, atravessando a Síria, o Mar Morto infinito,
a ruiva e adusta Líbia, o mudo e fulvo Egito, as várzeas de Gisej,
o Hebron fragoso e imenso, só para lhe ofertar uns grânulos de
incenso... Também vim, sonhador, pela vida, tristonho, trazer-te
o meu amor no incenso do meu sonho.
Ai de mim que, tristonho, trazia
à tua vida a oferta do meu sonho...Pouca coisa, porém... Uma alma
ardente e inquieta arrastando na terra um coração de poeta.
Na velha Ásia, a Jesus, em Belém, um Rei Mago, não tendo outro
partiu através de Cartago, atravessando a Síria, o Mar Morto infinito,
a ruiva e adusta Líbia, o mudo e fulvo Egito, as várzeas de Gisej,
o Hebron fragoso e imenso, só para lhe ofertar uns grânulos de
incenso... Também vim, sonhador, pela vida, tristonho, trazer-te
o meu amor no incenso do meu sonho.
COLOMBINA com ternura:
Como te amo, Pierrot...
Como te amo, Pierrot...
ARLEQUIM
E a mim, cujo desejo te abriu o coração com a chave do meu beijo?
A tua alma era como a Bela Adormecida: o meu beijo a acordou
para a glória da vida!
E a mim, cujo desejo te abriu o coração com a chave do meu beijo?
A tua alma era como a Bela Adormecida: o meu beijo a acordou
para a glória da vida!
CALOMBINA fascinada:
Como te amo, Arlequim!...
Como te amo, Arlequim!...
PIERROT
desvairado pelo ciúme, apertando-lhe os pulsos,
numa voz estrangulada:
desvairado pelo ciúme, apertando-lhe os pulsos,
numa voz estrangulada:
A incerteza que esvoaça desgraça muito mais do que a própria
desgraça. Escolhe entre nós dois... Bendiremos os fados sabendo
o que é feliz, entre dois desgraçados!
desgraça. Escolhe entre nós dois... Bendiremos os fados sabendo
o que é feliz, entre dois desgraçados!
ARLEQUIM
Dize: Queres-me bem?
Dize: Queres-me bem?
PIERROT:
Fala: gostas de mim?
Fala: gostas de mim?
COLOMBINA, hesitante:
A Pierrot:
Eu amo-te , Pierrot...
A Arlequim:
... Desejo-te, Arlequim...
A Pierrot:
Eu amo-te , Pierrot...
A Arlequim:
... Desejo-te, Arlequim...
ARLEQUIM, soturnamente:
A vida é singular! Bem ridícula, em suma... Uma só, ama dois...
e dois amam só uma!..
A vida é singular! Bem ridícula, em suma... Uma só, ama dois...
e dois amam só uma!..
COLOMBINA , sorrindo e tomando ambos pela mão:
Não! Não me compreendeis... Ouvi, atentos, pois meu amor se
compõe do amor de todos dois... Hesitante, entre vós, o coração balanço:
A Arlequim:
O teu beijo é tão quente...
A Pierrot:
O teu sonho é tão manso...
Não! Não me compreendeis... Ouvi, atentos, pois meu amor se
compõe do amor de todos dois... Hesitante, entre vós, o coração balanço:
A Arlequim:
O teu beijo é tão quente...
A Pierrot:
O teu sonho é tão manso...
Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma dando a Arlequim
meu corpo e a Pierrot a minh’alma! Quando tenho Arlequim, quero
Pierrot tristonho, pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu...
outro fala da terra! Eu amo, porque amar é variar, e em verdade
toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem
um ser somente, porque a história do amor pode escrever-se assim:
meu corpo e a Pierrot a minh’alma! Quando tenho Arlequim, quero
Pierrot tristonho, pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu...
outro fala da terra! Eu amo, porque amar é variar, e em verdade
toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem
um ser somente, porque a história do amor pode escrever-se assim:
PIERROT
Um sonho de Pierrot...
Um sonho de Pierrot...
ARLEQUIM
E um beijo de Arlequim!
E um beijo de Arlequim!
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Musiquinhas pra relaxar:
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